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"EU NÃO PREVEJO O FUTURO, EU PREVINO SOBRE O FUTURO!" - MAGO DAM

Astecas: Uma República Confundida com Teocracia II

5 – Religião, Ciência e Alimentação:

Apesar da Alimentação não parecer uma das características mais importantes de uma civilização, em se tratando das culturas pré-colombianas, ela deve ser ressaltada, pois além de tais regiões possuírem iguarias desconhecidas dos Europeus Medievais, muitos desses pratos hoje fazem parte de nosso cotidiano e podemos jurar que sempre foram conhecidos de nossos antepassados Europeus.

A Religião é um traço marcante em todo civilização, pois ao mesmo tempo em que motiva o povo a certas coisas, o desmotiva a outras e, às vezes, controla sua vida, como no caso dos Astecas, além disso, nas civilizações com características antigas (pois apesar do Império Asteca ter sido contemporâneo da Europa Medieval, ele teve muito mais haver com a Antigüidade, onde grande Impérios se estendiam pelo poder das armas, pela bravura de seus soldados e pela perícia de seus governantes), a Religião está intimamente ligada com a Ciência, pois mesmo na Europa, foi o advento do Cristianismo que desvinculou a religiosidade da ciência, com a imposição daquela sobre esta. A conseqüente estagnação tecnológica em que o mundo Europeu se viu mergulhado só foi quebrada pelos contatos com avanços dos povos Islâmicos.



5.1 – A peculiar Alimentação Asteca:

Dentre as mais famosas iguarias da cozinha Asteca estavam o milho (sua principal fonte de alimentação, assim como principal fonte de alimentação de toda a Mesoamérica), o feijão, o tomate, os perus, os cachorros, os coelhos e o chocolate. Nenhum desses alimentos era conhecido dos Europeus antes da conquista do Império Asteca. No entanto, a maioria de tais alimentos era diferente do que é hoje. É o caso espantoso do milho, que ao contrário do formato atual; ou seja, grandes espigas de sementes duras; era menor, com espigas moles, sendo assim, depois de cozido, era comido com o sabugo e tudo. O cereal só se modificou com o desenvolvimento do hibridismo, o que aumentou suas propriedades nutritivas e também seu tamanho.

O chocolate também era diferente do atual, ou seja, além de não ser ao leite (uma vez que os Astecas não tinham vacas) e, portanto, ser amargo e bem preto, ele também não era sólido, mas sim um líquido quente e grosso, que se bebia depois das refeições, especialmente no inverno.

Quanto aos cachorros, é certo que os Europeus conheciam cachorros, aliás, quem não os conhecia eram os Astecas, que só possuíam uma única raça (cachorros pequenos e sem pelos e com a pele vermelha, hoje extintos). Porém, a utilização dos cachorros pelos Astecas não era a mesma que a Européia, pois enquanto os Europeus desde os mais remotos tempos utilizavam os cachorros como companheiros, caçadores e guardas, os Astecas utilizavam-nos como rebanho, isso mesmo, eles faziam criações de cachorros, dos quais apenas alguns chegavam à idade adulta (para serem reprodutores), pois a maioria era morta ainda filhote, para ser degustada, os cachorros eram o prato preferido dos Astecas.

No entanto, quando chegaram a Tenochtitlán, devido aos maus momentos que passaram, incluindo privações das maiores possíveis, os Astecas foram obrigados a adotar uma dieta a base de peixes do lago Texcoco, aves do mesmo lago e animais mais (digamos) nojentos, como sapos, rãs e mesmo insetos de todos os tipos, desde moscas até mosquitos.

A pimenta era conhecida dos Astecas e, assim como o tomate, era usada como tempero, isso mesmo, os Astecas não comiam o tomate como alimento em si, mas sim como tempero, utilizavam-no para fazer molhos os quais jogavam por cima de seus alimentos.

Os perus eram apreciados em todos os sentidos, pois sua carne era comida e suas penas utilizadas como plumas para os que tivessem autorização de ostenta-las.

Além de todos os pratos citados acima, os Astecas conheciam também a carne, bem como os ovos, de tartaruga, carne de javali (semelhante a do porco), coelho, além de frutas diversas.

Apesar de todos os pratos referidos realmente terem pertencido à cozinha Asteca, eles não estavam ao alcance da maioria da população. Isso porque eram muito caros, sendo assim, só eram consumidos pela aristocracia. O cidadão comum tinha sua alimentação baseada em bolos de milho e feijão, muitas vezes temperados com pimenta e tomate, sendo que raras vezes consumiam carne ou outro tipo de alimento.


5.2 – Ciência X Religião:

Em contraposição ao fato de que na Europa da época Religião e Ciência caminhavam separadamente, com a primeira entravando a segunda, no México, bem como nos Impérios Antigos do Velho Mundo, ambas caminhavam juntas.

Foi graças à atividade dos sacerdotes Astecas, que esta civilização desenvolveu boa parte de seus conceitos científicos. Isso se deve ao fato de que os sacerdotes eram ao mesmo tempo os maiores eruditos de Tenochtitlán, pois, por não terem suas vidas consagradas nem ao trabalho, nem à guerra, eles tinham tempo para se dedicarem à leitura, à observação dos astros e ao desenvolvimento da matemática.

É bem verdade que no referente às ciências exatas (matemática, astronomia e engenharia, em especial), os Astecas copiaram muito dos povos mais antigos no México, imitando-os em alguns aspectos, aperfeiçoando suas descobertas em outros e, até mesmo, piorando alguns de seus inventos. O maior caso de invento que foi, digamos, piorado é o calendário solar Maia, no qual havia uma perfeição rigorosa, perfeição essa que foi um pouco prejudicada na adaptação Asteca.

No referente à engenharia, os Mexicanos eram muito hábeis, tendo construído dois aquedutos que levavam água potável do planalto até Tenochtitlán, além de muitas pontes e das famosas ilhas artificiais, que constituíam a maior parte do território da capital.

A astronomia (que diferentemente da astrologia, que não passa de uma série de misticismos em torno da suposta influência que os astros exercem sobre as pessoas, é uma ciência que consiste em observar e catalogar a existência, bem como o movimento dos astros) era altamente desenvolvida. Com base nela, é que foi elaborado o calendário, assim como, era graças a ela que os Astecas podiam prever os bons períodos para colheita e plantio. No entanto, a observação dos astros dava respaldo para o desenvolvimento e ampliação das crenças astrológicas, sendo assim, não eram pequenas as influências que os Astecas atribuíam aos astros sobre as pessoas. Segundo as crenças, o dia do nascimento podia indicar várias coisas sobre o caráter do bebê, tais como suas tendências profissionais. Para livrar os recém-nascidos do malogro que era nascer num dia nefasto, seu nome era escolhido num dia bom, sendo assim, este dia passava a valer como sendo o dia de seu nascimento, o que poderia fazer alguns bebês ficarem dias sem nomes. Os únicos aptos a indicar quais dias eram nefastos e quais não, eram os sacerdotes, sendo assim, eram eles que batizavam os bebês.

Curiosamente, os Astecas possuíam dois calendários distintos, um de 365 dias, composto de 18 meses de 20 dias cada, além de mais 5 dias nefastos ao final do ano. Nestes cinco dias, não se trabalhava e a única coisa que se fazia era orar para os deuses e realizar muitos sacrifícios. Este calendário era o oficial, e servia como uma base para a agricultura. Já o outro calendário era bem mais curto, 260 dias apenas, e era destinado às crenças religiosas, era nele que se mediam as durações das semanas (cada semana tinha três dias), além das datas dos sacrifícios e festas religiosas. Ambos os calendários haviam sido copiados dos Maias, sendo o de 365 um tanto quando piorado, uma vez que os Astecas não consideravam o ano como tendo 365,242 dias (como os Maias), mas apenas como tendo 365, o que tirava um pouco de sua exatidão.

A Matemática Asteca era impressionante por (apesar de também copiada dos Maias) ser mais exata que a Romana, sendo que ao contrário desta, ele tinha a noção do zero. O impressionante e que com apenas três símbolos (uma concha, um ponto e um traço), ele conseguiam representar quaisquer números, desde o zero até o infinito. A base da matemática Asteca era o número vinte, onde, de uma certa forma, se apoiava toda a sua estrutura. Assim como nos algarismos Romanos (que não podia se repetir em seguida mais do que três vezes), os algarismos Astecas não podiam ser repetidos em seguida, mas no caso destes, a repetição máxima permitida era de quatro símbolos iguais. A noção ocidental de matemática (exposta principalmente nos números Arábicos e Romanos), indica uma escrita horizontal, o que não acontecia no México, onde os números eram escritos verticalmente.

Sobre as obras da engenharia Asteca, além dos feitos dos habitantes de Tenochtitlán, a que se destacar os feitos dos habitantes de Texcoco, que além de terem construído uma espécie de terma (com canais e aquedutos) entalhada na montanha de Tetzcotzinco, ainda teriam construído (tudo sob o reinado de Nezaualcoyotl) um gigantesco dique de madeira dentro do lago Texcoco, tal dique teria a função de impedir que cheias da parte mais profunda do lago (margem oriental) provocassem inundações em Tenochtitlán, que se localizava próxima à margem ocidental.


5.3 – Um grande e complexo Panteão:

O panteão (conjunto de divindades) Asteca era muito numeroso, tendo desde divindades realmente Astecas, como o deus Uitzilopochtli, que os teria guiado em sua marcha rumo ao México, até divindades dos povos já estabelecidos no México há muito tempo, como Quetzalcoatl e Tezcaplipoca, no entanto, este último começou a ser cada vez mais associado à figura de Uitzilopochtli, tendo, perto da conquista, as duas divindades se fundido em uma só, com o nome de Uitzilopochtli.

Além desses deuses, outros que originalmente não era Astecas, como Tlaloc, passaram a incorporar o panteão de Tenochtitlán. Na verdade, Uitzilopochtli estava se tornando, aos poucos, a mais poderosa divindade Asteca, sendo que muitos povos o associavam a seu deus principal, é o caso de Xipe Totec, Mixcoatl e às vezes, do próprio Quetzalcoatl, todos incorporados (em maior ou menor grau) à figura de Uitzilopochtli. Tal unificação dentro do panteão leva a crer que o caminho natural da evolução religiosa Asteca seria o monoteísmo, pois à medida que as divindades se reuniam sob um mesmo título, esta se fortalecia e tendia a ser considerada o único deus.

Em Texcoco, o grande Rei Nezaualcoyotl mandou construir uma torre, que era encimada por um santuário ricamente decorado, dedicado a uma divindade, o mais estranho é que não havia nenhum ídolo neste santuário e o dito deus seria invisível, impalpável, sem história e até mesmo sem nome, referido apenas como: "aquele graças a quem nós vivemos". Isso (vindo de um indivíduo que para os Astecas era considerado tão culto quanto Platão ou Aristóteles, para os Europeus), mais do que a fusão de deuses, leva a crer que os Astecas caminhavam para o monoteísmo.


5.4 – O Apocalipse Asteca:

Muitos povos cultuavam tradições relativas ao fim da humanidade, tradições essas que, no passado estavam presentes no cotidiano humano. Foi assim com Persas, que temiam o fim do mundo nas garras de Arimã, com os Cristãos, que temiam (e alguns ainda temem) a chegada do Anticristo e o chamado Apocalipse, com os Vikings, que temiam que seus deuses morressem numa guerra celestial e foi assim com muitos outros povos ao longo dos tempos.

Se até uma religião que se considera superior e evoluída como a Cristã pode acreditar no fim do mundo, por que não uma religião de indígenas, seres tão inferiores (não levem a mal, estou sendo sarcástico)?

Bem, os Astecas viviam com o tormento do fim do mundo; ou como eles chamavam, do fim do Sol; sobre suas cabeças. Para eles, a humanidade atual seria a quinta, tendo, portanto, sido precedida por outras quatro.

A cada ciclo de 52 anos, segundo a mitologia Mexicana, o mundo corria sério risco de extinção, pois isso já havia ocorrido outras vezes no passado. Na realidade, o primeiro Sol, chamado naui-ocelotl (quatro-jaguar), teria sido destruído pelos jaguares, isso mesmo, os grandes felinos Mexicanos teriam descido das montanhas e devorado a humanidade.

O segundo Sol, chamado naui-eecatl (quatro-vento), teria sido destruído por Quetzalcoatl, o deus do vento, que teria soprado sobre o mundo um vento mágico que transformou a humanidade em macacos.

O terceiro Sol, chamado naui-quiauitl (quatro-chuva), teria sido destruído por Tlaloc, o deus da chuva, da água, do raio (de tudo relacionado à água, inclusive doenças), teria criado um imenso dilúvio que teria submergido o mundo em águas destruindo toda a humanidade.

Do gigantesco dilúvio, que durou 52 anos (este era um número pragmático para os Astecas, muito provavelmente por corresponder à metade do tempo (104 anos) que levava para que o início de um ano terrestre coincidisse com o início de um ano de Vênus, planeta pelo qual os Astecas tinham adoração), sobreviveram apenas um homem e uma mulher. No entanto, a humanidade não descende deles, pois, por terem sobrevivido, contrariando o desejo dos deuses, Tezcatlipoca os teria transformado em cães.

O nosso mundo, ou nosso Sol, denominado naui-ollin (quatro-terremoto) teria sido recriado pela bondade de Quetzalcoatl, que resgatou do inferno (reino do deus Mictlantecuhtli) os ossos dos mortos e, regando-os com seu próprio sangue, restaurou-lhes a vida para reinar entre eles. Porém, como vimos anteriormente, Tezcatlipoca expulsou-o para Tlillan Tlapallan, de onde prometeu voltar para resgatar seu trono.

Para impedir nosso mundo de ser destruído, coisa que os Astecas acreditavam que pudesse acontecer a cada 52 anos, eles faziam uma cerimônia especial chamada de Fogo Novo.

Em todas as casas, se apagava o fogo e se quebrava toda a louça, os sacerdotes escolhiam um prisioneiro para ser sacrificado e o conduziam até o topo do monte uixachtecatl. Lá, o prisioneiro era sacrificado, tendo seu peito aberto por uma faca de sílex. Depois, um dos sacerdotes pressionava uma tocha acessa contra o peito aberto do indivíduo (às vezes ainda vivo) quando o fogo da tocha se apagava, era considerado aceso o Fogo Novo.

Para festejar, cada família reacendia seu fogo e comprava louças novas, enquanto que o Tlatoani realizava alguma obra (geralmente a ampliação do Grande Templo) como forma de expressar sua gratidão aos deuses por mais 52 anos de existência.

Ao todo, foram realizadas sete cerimônias do Fogo Novo (1195, 1247, 1299, 1351, 1403, 1455 e 1507), a primeira delas enquanto os Astecas ainda estavam em marcha para o México. A oitava, prevista para 1559, não se realizou porque o Império já havia sido conquistado pelos Espanhóis.


5.5 – Uma rápida observação sobre a morte:

Para os Astecas, existiam cinco formas de morte. Todas elas eram encaradas com muita naturalidade, porém apenas quatro delas proporcionavam a salvação irrefutável. Vejamos quais eram as espécies de morte Astecas.

A morte por causas naturais, ou seja, velhice, acidentes (exceto afogamento) e a maioria das doenças, era considerada comum, o indivíduo que morresse dessa forma era mumificado, preparado com sua melhor roupa, suas plumas e jóias (caso pudesse utiliza-las) e depois cremado com tudo o que fosse ser necessário em sua jornada além-vida, ou seja, comida, armas e objetos de uso pessoal. A família continuava cultuando o morto por oitenta dias e, passado este tempo, anualmente, até que se completassem quatro anos de sua morte, quando então ele era esquecido, ou pelo menos deixava de ser cultuado. Pessoas mortas dessa maneira iam para o inferno, serem atormentadas por nove anos, pelo deus Mictlantecuhtli, quando enfim desapareciam para sempre.

A morte na tábua de sacrifícios era digna tanto de salvação, assim como a dos guerreiros, pois os mortos dessa forma iam viver por quatro anos junto com o Sol, de onde regressavam após esse período para reencarnarem como beija-flores. Houve casos em que senhores de escravas destinadas ao sacrifício se apaixonaram por elas e lhes permitiram continuar vivas, no entanto, estas escolhiam morrer na tábua de sacrifícios, esperando serem recompensadas no além-vida. Os sacrifícios, de um modo geral funcionavam assim: o indivíduo era deitado na tábua de sacrifícios e seu peito era aberto pelo sacerdote, com uma faca de sílex. Seu coração era retirado do peito (ainda batendo), oferecido ao deus ao qual o sacrifício estivesse sendo realizado e por fim, jogado numa pira onde seria queimado. Depois, a cabeça do sacrificado era cortada e colocada numa estaca na praça ao lado do Templo do Sol. O corpo era incinerado. Havia também outras formas de sacrifícios, como a descrita no item sobre esportes, mas esta era a mais usual.

Dentre as mortes glorificantes, a mais simples de se compreender era a morte dos guerreiros nos campos de batalha, pois aqueles que morressem lutando seriam salvos instantaneamente, tendo o mesmo fim espiritual dos sacrificados, ou seja, indo morar com o Sol por quatro anos e depois retornando como colibris. Essa crença era claramente induzida nos indivíduos para que não se negassem a lutar até a morte, se fosse preciso.

O mais curioso dentre os tipos glorificantes de morte era a morte relacionada à água. Qualquer um que morresse afogado, por hidropisia, ácido úrico, vítima de raios ou, no caso de mulheres, de parto, não era cremado, mas sim enterrado e passava a ser cultuado como um escolhido de Tlaloc. Tlaloc era muito cultuado devido a aridez do México, sendo assim, ele representava a vida, ou pelo menos a esperança dela. Devido ao seu culto, cultuavam-se também as montanhas, pois como as nuvens de chuva se formavam nos seus cumes, elas eram tidas como moradas de ajudantes de Tlaloc, os Tlaloque.

Por fim, nota-se que crianças pequenas (antes de começarem seus estudos) eram consideradas puras, sendo assim, quando morriam, iam para um jardim florido denominado Tonacaquauhtitlán, onde viveriam por toda a eternidade, sob a forma de pássaros, voando entre flores.


6 – A História Asteca segundo seus períodos e governantes:

Até esta parte de meu trabalho, dediquei-me a colocar o leitor a parte dos costumes e da vida cotidiana do povo Asteca, porém, apesar de ter citado alguns fatos importantes da história de sua civilização, não contei a história de um modo cronológico, o que é fundamental para a compreensão correta dos fatos, sendo assim, é a isso que me remeterei nesta parte: contar a história Asteca desde seus primórdios, em Aztlán, até a chegada dos Espanhóis, a qual dedicarei um item único no final do texto.

Espero que me expresse o menos mal possível e que o leitor não encontre dificuldade em compreender minhas idéias e minha forma de escrever.


6.1 – Aztlán: mito ou realidade?

Segundo a tradição Asteca, seu povo teria vivido por muito anos em Aztlán, uma ilhota situada dentro de um lago a noroeste do México, de onde teriam saído rumo ao planalto Mexicano. Mas será mesmo verdade que os Astecas viveram em Aztlán, ou será lenda?

Por muitos anos vários pesquisadores discutiram (como até hoje ainda discutem) sobre a veracidade da existência de Aztlán, no entanto, dois fatos fazem crer que a mítica ilha tenha realmente existido: numa praia do atual estado Americano da Califórnia, foi encontrada uma estátua que parece ser do deus Uitzilopochtli, a divindade que teria guiado os Astecas em sua marcha, além disso, numa caverna na mesma Califórnia, foram encontrados desenhos (provavelmente Astecas) que mostram homens (chefes de quatro clãs) em marcha, o que prova que, se os Astecas não moravam na Califórnia, ao menos passaram por ela até atingirem o México.

É possível que Aztlán se localizasse num pequeno lago (talvez hoje inexistente, por ter secado) da Califórnia, onde por milhares de anos uma tribo que se reconhecia pelo nome de Mexica viveu. Lá, eles pescavam com redes e viviam de animais lacustres, cercados por uma terra estéril e repleta de perigos, como tribos inimigas e coiotes do deserto.

A população de Aztlán não deve nunca ter excedido duas mil pessoas, sendo que estas estavam divididas em quatro clãs. O chefe de cada clã era como um sacerdote, sendo responsável pelo culto aos ancestrais do clã.

Estes quatro sacerdotes, representado os interesses de seus parentes, se reuniam e, imbuídos de poderes semi-divinos, ou concedidos pelos deuses, organizavam a vida da comunidade.

É provável que em Aztlán tenha surgido o culto a Uitzilopochtli, sendo este o deus central o deus ao qual os quatro clãs estavam submetidos, sendo, portanto, superposto às divindades de cada clã.

O governo de Aztlán é facilmente identificado como sendo uma Oligarquia Teocrática superposta a uma Democracia tribal, pois à medida que os quatro sacerdotes tinham poderes infinitos sobre a população, dentro de cada clã, as decisões eram tomadas de comum acordo e, talvez, com a participação de qualquer adulto, seja homem ou mulher, como é tradicional nas tribos Neolíticas, que era o que os Mexica eram.

Como já me referi, em 1168, Tula, a capital do Império Tolteca, foi destruída, pondo um fim à unidade daquele Império. A notícia da queda se espalhou rapidamente e atraiu tribos dispostas a migrarem para um lugar melhor, para, além de terem melhor qualidade de vida, vislumbrarem a oportunidade de pilhar as riquezas do falido Império Tolteca.

Alguns anos apenas levaram para que a notícia da queda de Tula chegasse a Aztlán. Logo que esta chegou, os chefes da cidade resolveram se por em marcha rumo ao planalto Mexicano.


6.2 – Chicomoztoc, a marcha para o sul:

A marcha dos Mexica para o México ficou conhecida como chicomoztoc, ou seja, "sete cavernas", o que corresponde ao modo de vida da tribo neste período que, seguramente, durou pelo menos um século. É isso mesmo, os Mexica levaram mais de cem anos para chegarem ao México, mas isso porque durante sua longa marcha, se estabeleceram várias vezes (provavelmente sete) em cavernas, nas quais permaneciam por alguns anos se recompondo do trajeto, até colocarem-se em marcha novamente. Numa dessas paradas, é que os Mexica talvez tenham desenhado as ditas figuras nas paredes da caverna e noutra, talvez tenha se abrigado numa caverna à beira mar (hoje submersa), onde teriam feito escultura e, uma delas seria a encontrada.

O fato é que durante sua marcha, os Mexica tomaram contato com outras tribos de língua Nahuatl, que estavam migrando para o México, tribos essas ditas Chichimecas, ou seja, bárbaras.

Tais tribos estavam em diferentes estágios de desenvolvimento e, apesar de algumas provavelmente terem sido agressivas, ocasionando a guerra, a maioria cooperou uma com a outra, sendo assim os Astecas descobriram a agricultura e a escrita, técnicas fundamentais para a vida que passariam a ter quando chegassem no México.


6.3 – Em busca de terra:

Depois de chegarem ao planalto Mexicano, os Mexica foram batizados pelos descendentes dos Toltecas de Azteca Chichimeca, ou seja, os bábaros de Aztlán. Uma corruptela desse nome deu origem à palavra Azteca, que os Espanhóis estenderam Asteca e que hoje, incorretamente, nós colocamos no plural Astecas.

A partir desse batismo, a identidade com o nome se tornou tão grande que os Astecas passaram a se reconhecer como Astecas e passaram a chamar a região que pretendiam dominar de México, ou seja, Terra dos Mexica.

Com o fim de sua longa marcha, por volta de 1300, os Astecas atacaram um pequeno povoado, chamado Chapultepec, às margens do lago Texcoco, e se estabeleceram lá, exterminando sua população original. Em Chapultepec, tinham árvores, peixes do lago, água potável dos rios e tudo mais que não possuíam em Aztlán, porém, não possuíam mulheres suficientes para todos os homens de sua aldeia, por isso, resolveram atacar um povoado Tepaneca e seqüestrar algumas mulheres.

O seqüestro das mulheres Tepanecas colocou os Astecas em guerra com esse povo e, conseqüentemente, com sua aliada, a cidade Tolteca de Colhuacán. Esta cidade se localizava na margem sul do lago Texcoco e, por ser herdeira das tradições Tolteca, se considerava imbuída do dever de proteger o planalto Mexicano dos belicosos Chichimecas, que estavam chegando cada vez em maior número, sendo assim, atacaram os Astecas.

Ao verem que uma grande guerra estava em iminência, os quatro sacerdotes se reuniram e escolheram um chefe militar supremo que, além de comandar os exércitos, ainda resolveria as questões administrativas da cidade com poder absoluto, concedido pelo próprio Uitzilopochtli. Os Astecas deixavam de ser uma Oligarquia Teocrática para serem uma Monarquia Teocrática, e o Rei, não poderia ter outro nome senão um em homenagem ao deus que o nomeara, sendo assim, se chamou Uitziliuitl (Pluma de Colibri). Mais tarde veremos que esse é Uitziliuitl I, o Antigo.

Uitziliuitl chefiou todos os homens adultos (excetos crianças, idosos e os quatro sacerdotes) de Chapultepec numa gigantesca investida armada (há que se notar que o termo gigantesco é curioso, pois numa população de não mais do que três mil pessoas, o contingente total devia ser algo em torno de mil homens) contra Colhuacán.

Colhuacán, herdeira também das tradições militares Toltecas, além de muito mais populosa, levou para guerra um exército muito maior e mais bem armado do que o Asteca, sendo assim, em poucas horas, arrasou o efetivo de Chapultepec, cujos poucos sobreviventes recuaram para a cidade, mas foram seguidos pelos determinados exércitos de Colhuacán.

Chegando em Chapultepec, os exércitos de Colhuacán dizimaram a população, escravizando a maioria e só concordando em não eliminar os Astecas, com a condição de que Uitziliuitl se entregasse. E assim foi feito, o soberano Asteca se entregou e foi levado para Colhuacán, onde morreu na tábua de sacrifícios.

O Rei de Colhuacán ordenou que os habitantes que haviam sobrado em Chapultepec (muitos foram levados como escravos para Colhuacán) fossem divididos em dois grupos. O primeiro grupo poderia continuar na cidade, enquanto o segundo (cada grupo não deveria ter mais do que trezentas pessoas) seria obrigado a reiniciar sua marcha.


Sem um Rei, os Astecas voltaram a ser governados por sua elite sacerdotal, e em marcha, não sabiam para onde ir. Foi então que, em 1325, um dos quatro sacerdotes, Quauhcoatl (Serpente Águia), teve um sonho profético com Uitzilopochtli. Neste sonho, o deus lhe dizia que o melhor lugar par ir era para dentro do lago Texcoco, onde encontrariam ilhas cobertas de bambuzais. Quauhcoatl deveria se embrenhar no bambuzal e, no lugar onde avistasse uma águia sentada sobre uma figueira-do-inferno (ou figueira brava, espécie de cacto que produz figos venenosos) devorando alegremente uma serpente, ele deveria erguer um templo em honra do deus e, ao redor do templo, construir sua cidade.

Na manhã seguinte, Quauhcoatl falou com os outros sacerdotes e mudou o rumo da marcha, dirigindo-a para as ilhas pantanosas do lago Texcoco, a procura do sinal divino. Qual não foi a surpresa dos Astecas quando avistaram a cena com a qual o sacerdote havia fundado, sendo assim, abriram uma clareira e, no local, com os bambus cortados, construíram um templo e ao seu redor, começaram a erguer uma cidade, a qual deram o nome de Tenochtitlán, que significa Cidade da Figueira-do-Inferno.


6.4 – Os primórdios do poderio Asteca:

Situada sobre uma ilhota no lago Texcoco, Tenochtitlán começou a ser a nova casa dos Astecas, não era muito diferente de Aztlán, pois não tinha nem sequer água potável, visto que a água do lago Texcoco era saloba. Nesses primeiros anos (1325 – 1375), a Oligarquia Sacerdotal governou a cidade, que permaneceu incólume em meio às disputas por hegemonia ocorridas entre as 28 cidades estabelecidas às margens do lago.

Porém, em 1375, cedendo às pressões de Colhuacán, os sacerdotes aceitaram como seu soberano um príncipe de sua antiga rival, sendo assim, Acamapichtli (Punho de Bambu) foi enviado e sagrado governante de Tenochtitlán.

No entanto, receosos de que sua cidade caísse nas mãos dos inimigos, os quatro chefes de clãs não aceitaram Acamapichtli como um Rei, com poderes ilimitados como tinha sido Uitziliuitl, mas obrigaram-no a seguir uma série de normas, dentre as quais estava a de respeitar o conselho formado pelos quatro sacerdotes. Tiveram aí início o Tlatocan e o cargo de Tlatoani.

Entre 1375 e 1428, Tenochtitlán teve três Tlatoani, sendo Acamapichtli sucedido por Uitziliuitl II, que através de seu casamento com Miahuaxihuitl, princesa de Quauhnahuac (atual Cuernavaca, cidade produtora de algodão) garantiu para seu povo o algodão para a feitura de roupas mais quentes, próprias para enfrentar o rigoroso inverno do planalto Mexicano.

Uitziliuitl II foi um Tlatoani esplêndido, sendo sucedido por Chimalpopoca (Escudo Fumanete), que por sua fraqueza de atitudes, não foi mais do que um vassalo de Azcapotzalco (cidade herdeira do Império de Teotihuacán), que, através de batalhas, conseguira impor sua hegemonia às demais cidades do lago Texcoco, inclusive à própria Colhuacán.

Em 1428, Chimalpopoca foi assassinado por uma conspiração de Azcapotzalco, que visava implantar um Monarca descendente da monarquia da cidade em cada uma das cidades da beira do lago Texcoco.


6.5 – O advento de Itzcoatl:

Se cada civilização Antiga tem um governante herói, sem dúvidas o dos Astecas foi Itzcoatl (Serpente Obsidiana). Ele assumiu o posto de Tlatoani logo após o assassinato do fraco Chimalpopoca. Quando de sua sagração, a situação estava calamitosa, a mais poderosa cidade da margem oriental do lago, a cidade de Texcoco estava sem seu soberano (o famoso Nezaualcoyotl), que havia sido perseguido por um destacamento de Azcapotzalco até montanhas no norte, onde estava refugiado, sem ter como resistir, Tenochtitlán estava com os dias contados, por isso, muitos na cidade se tornaram partidários da rendição de Itzcoatl a Tezozomoc, soberano de Azcapotzalco.

No entanto, o Tlatoani Asteca ainda via uma possibilidade para seu povo. Secretamente, enviou tropas até a montanha onde Nezaualcoyotl se escondia das tropas inimigas, estas, sendo pegas de surpresa, foram destruídas e o Rei de Texcoco foi libertado e conduzido em segurança até sua cidade.

Com seu Rei novamente em casa, a população de Texcoco se animou e aliou-se a Tenochtitlán, formando um poderoso exército.

Quando os exércitos de Azcapotzalco atacaram Tenochtitlán, as tropas combinadas dos Astecas e de Texcoco os derrotaram, sendo assim, Itzcoatl ganhou status de semi-divindade, o que lhe permitiu aumentar ainda mais seu exército, tendo agora o apoio maciço de sua população (agora por volta de cinqüenta mil pessoas, dentre os quais um terço em condições reais de lutar).

Texcoco e Tenochtitlán se reuniram sob o comando de seus governantes, Nezaualcoyotl e Itzcoatl, e partiram para uma ofensiva direta contra Azcapotzalco. Chegando na cidade, derrotaram o restante das tropas, mataram o Rei Tezozomoc e conquistaram-na.

Depois de tamanha proeza militar, Itzcoatl e Nezaualcoyotl resolveram estabelecer uma aliança permanente para evitar possíveis tentativas de crescimento de outras cidades. Para ajudar em seu plano, os dois soberanos convenceram a cidade de Tlacopán, a mais forte dentre as cidades do planalto Mexicano (aquelas 28 que citei) a se juntar a eles naquela Aliança, sendo assim, criou-se a chamada Tríplice Aliança, entre Tenochtitlán, Texcoco e Tlacopán. Juntos os exércitos das três cidades começaram a expansão de seus domínios impondo pesados tributos às regiões submetidas. Desses tributos, 2/5 iam para Tenochtitlán, 2/5 para Texcoco e apenas 1/5 para Tlacopán, pois esta cidade havia ingressado na Aliança depois e, além do mais, era mais fraca militarmente.


6.6 – A expansão, o Império e as colônias: Os Astecas, logo após submeterem Azcapotzalco ao seu domínio, começaram a expandir sua área de poder, formando em pouco tempo, um verdadeiro Império. Na realidade, um Império não precisa necessariamente ter um Rei ou Imperador, o que precisa é ter regiões que lhe sejam submissas e que sejam tratadas com desigualdade em relação ao centro do Império, ou seja, a região que impõe o domínio.

Entretanto, o Império Asteca tinha muitas características diferentes dos principais Impérios do Velho Mundo. Pra começar, os Astecas não estavam nem um pouco interessados em submeter extensas regiões a um domínio político que seria, além de muito oneroso, muito difícil de ser mantido, ao contrário, eles queriam apenas obrigar povos distantes a prestar culto a Uitzilopochtli e Tlaloc, além de pagar tributos à Aliança, sendo assim, os antigos governantes das regiões conquistadas eram mantidos em seus cargos, com todos os seus títulos, poderes e pompa, sendo unicamente obrigados a pagar tributos e prestar culto. De uma maneira aproximada, esta forma de domínio é parecida com a forma que os EUA mantém sobre diversos países, pois mesmo não os obrigando a pagar tributos e não os tendo conquistado pela força das armas (pelo menos não na maioria dos casos), os EUA fazem pressões financeiras, ameaças de boicotes, ameaças de invasões, além do controle financeiro exercido através de instituições como o FMI, a ONU e o Banco Mundial, sendo assim, apesar de os países manterem sua autonomia política, sua economia fica totalmente dependente dos EUA, assim como os Astecas faziam com os dominados.

Os tributos eram enviados geralmente em espécie, ou seja, não era empregada a moeda (sementes de cacau) neste pagamento. Cada região enviava para a Aliança o que produzia, desde algodão até alimentos, plumas, pedras preciosas, peles de animais, pedras, madeira, ouro e prata, animais e até armas. Dependendo do tipo de tributo enviado, a quantidade de vezes por ano era determinada, podia ser uma vez por anos, duas, três quatro, variava.

Além da semelhança com os EUA, o domínio Asteca também tinha semelhanças com o Romano, isso porque, apesar de não dominar as regiões efetivamente (como faziam os Romanos), eles também construíam colônias militares em pontos estratégicos de seus domínios. Quando os Espanhóis chegaram, havia mais de trinta colônias militares espalhadas por todo o México.

Diferentemente das colônias da era Moderna, das quais o Brasil e o próprio México são exemplos, as colônias antigas, como a Jônia e a Magna-Grécia dos Gregos, e as diversas praças fortes dos Romanos, não tinham o objetivo de alcançar lucros, porém, também não eram exatamente como as colônias do norte do EUA (exceto pela Jônia e Magna-Grécia, que foram realmente colônia de povoamento), pois elas não tinham a finalidade de receber pessoas expulsas de seu país natal, ao contrário, elas recebiam homens que iam morar nelas com suas famílias e viver de sua produção (até aí semelhante às colônias de povoamento), mas seu intuito era servir o Império, sendo um forte, bastião em meio às terras dominadas, para impedir revoltas, fiscalizar o pagamento correto dos tributos e informar alguma eventualidade com rapidez e eficácia.


6.7 – República sim, Teocracia não:

Acredito que até este ponto do texto, o leitor já tenha compreendido porque os Astecas eram uma República, no entanto, caso não tenha, agora explicarei melhor agora e, para os que entenderam, também é interessante a leitura deste trecho, pois aqui explicarei como Tenochtitlán se tornou uma República de fato.

De Acamapichtli até Chimalpopoca, Tenochtitlán funcionou precariamente como uma República, isso porque a autoridade externa, na ânsia de se fazer valer entre os Astecas, ajudava os Tlatoani a serem mais poderosos que o Tlatocan, sendo assim, eles acabavam fazendo-se de Reis e a cidade vivia um meio termo entre República e Monarquia, com oscilações para ambos os lados.

Com o advento de Itzcoatl, as pressões externas acabaram, mas como o Tlatoani havia conclamado o povo a lutar, mesmo a contragosto do Tlatocan, ele havia se fortalecido, o que fez de Itzcoatl um verdadeiro Rei, amado e respeitado pelo povo como tal.

Porém, com a morte de Itzcoatl, em 1440, o Tlatocan viu uma chance de restaurar seu poder perdido, sendo assim, quando Motecuhzoma I (O Arqueiro que Flecha o Céu, ou Aquele que se Zanga como Senhor) assumiu o cargo de Tlatoani, recebeu muita pressão do Tlatocan para realizar reformas administrativas. Vendo, porém, que a autoridade do Tlatoani parecia inabalável, o Tlatocan resolveu apelar para o povo, sendo assim, na esperança de reaproximar o povo do governo, se livrar do despotismo do governante.

Sendo assim, o Tlatocan criou o Grande Conselho, do qual faziam parte a elite militar (para dar o respaldo da força), a elite clerical (para dar os respaldo dos deuses) e a elite popular (para dar o respaldo das massas). Com a ajuda do Grande Conselho, o Tlatocan conseguiu obrigar Motecuhzoma I a se submeter e, além disso, a dividir seu poder com mais uma pessoa, pois um poder dividido é mais fácil de ser controlado. Cedendo às pressões, por medo de ser deposto, Motecuhzoma I aceitou o Tlatocan e o Grande Conselho como órgãos verdadeiramente detentores do poder e passou a ser, junto com seu irmão Tlacaeleltzin, eleito o primeiro Ciuacoatl, o representante vitalício desse poder.

As criações do Grande Conselho e do cargo de Ciuacoatl foram responsáveis por uma sensível diminuição dos poderes do Tlatoani, no entanto, foram também os verdadeiros responsáveis pela condição Republicana a qual se submeteu definitivamente o Império e também, por que não, tenham sido os grandes responsáveis pela manutenção do Império, uma vez que a organização das outras cidades, governadas por um Rei, não lhes permitiria uma fácil ascensão, visto que um Rei pode encontrar forte oposição, enquanto que as decisões do Grande Conselho são irrefutáveis, pois partem (em termos) do próprio povo, através de seus representantes.

Todas as características acima citadas refletem claramente o fato de o Império Asteca ter sido uma República, inclusive, em moldes parecidos com a Romana, onde os Cônsules apenas não tinham mandatos vitalícios, mas sim anuais, mas onde o poder emanava do Senado, instituição que (pelo menos em teoria) era representante do povo.

Após a morte de Nezaualcoyotl, em 1472, depois de um governo de 44 anos, Axayacatl (Rosto da Água), o Tlatoani que sucedeu Motecuhzoma I, em 1469, passou a preponderar dentro da Tríplice Aliança, na verdade, ele escolheu Nezaualpilli, um dos filhos de Nezaualcoyotl, para suceder o pai, sendo assim, os Astecas passaram a ditar as regras dentro de Texcoco, que deixou de ter qualquer poder efetivo para ficar relegada a capital das artes, da cultura e do direito, este último sendo um prêmio de consolação pela perda de toda influência político-militar, no entanto, o sumo juiz era o Ciuacoatl de Tenochtitlán.

Quanto a Tlacopán, ainda no governo de Motecuhzoma I, a cidade passou a ser relegada a um plano muito inferior ao de Texcoco e Tenochtitlán, na realidade, passou a ser tratada como uma verdadeira vassala de Tenochtitlán, não tendo mais nenhuma importância dentro da Aliança.


6.8 – O apogeu e as Guerras Floridas:

Após o governo de Axayacatl, que se encerrou com sua morte, em 1481, foi eleito Tizoc (Aquele que se Sangra), que teve o mais curto dentre os cinco grandes governos Astecas: apenas cinco anos.

No governo de Tizoc, houve muitas pressões tanto do Tlatocan, quanto do Grande Conselho, além de revoltas e descontentamento popular, toda essa situação confusa dentro do esplendoroso Império levou Tizoc, que assumiu em 1481, a cometer suicídio em 1486, sendo assim, seu nome lhe coube como uma luva.

Depois do desastroso governo de Tizoc, o Império se enfraqueceu e teria desmoronado se não fosse o poder e carisma de Auitzotl (Monstro Aquático), o novo Tlatoani eleito. Para lhe conceder o medo e o respeito da população, o governante adotou o nome do monstro que os Astecas acreditavam que habitava as profundezas do lago Texcoco e que devorava pessoas que mergulhavam nele (era um mito para explicar o desaparecimento de alguns corpos de pessoas afogadas).

Auitzotl (o Tlatoani, não o monstro), teve que reconquistar todas as regiões que haviam se rebelado no governo de Tizoc, mas além disso, expandiu muito o Império, deixando-o quase do tamanho que era quando os Espanhóis chegaram.

O feito mais importante de Auitzotl, no que diz respeito à expansão militar, foi a fundação da colônia de Xoconochco, uma região muito distante do corpo Imperial, bem no seio dos territórios Maias, que foi colocada sob a administração Asteca. Além de a região servir como futura base para uma futura investida contra o Reino de Tototepec, o vizinho meridional do Império, ainda servia de estalagem para os negociantes que viajasse além do Istmo de Tehuantepec e para uma possível investida contra os Maias da península de Yucatán. Realmente Xoconochco foi a maior conquista Asteca, e teve grande participação dos Negociantes (Pochteca), que por abrirem caminho entre os inimigos, possibilitaram a passagem dos exércitos.

Com toda certeza, no governo de Auitzotl, o Império Asteca atingiu seu apogeu. Nesta época, o exército desenvolveu uma diplomacia militar que se provou eficiente por várias vezes em evitar batalhas. A diplomacia funcionava da seguinte maneira: quando a Tríplice Aliança (a esta altura apenas uma ficção totalmente dominada por Tenochtitlán) desejava dominar uma nova cidade, então, três destacamentos de embaixadores visitavam a cidade. O primeiro era composto por oficiais de Texcoco, que faziam à cidade a proposta de pagar tributos pacificamente à Tríplice Aliança, a segunda, era uma embaixada de Tlacopán, que recebia a resposta da proposta feita pela primeira, caso a resposta fosse negativa (o que acontecia na maioria das vezes), essa missão refazia-a, então, depois de alguns dias, chegava à cidade uma embaixada de Tenochtitlán, com um grande carregamento de armas. Esta embaixada recebia a nova resposta e, caso fosse negativa, ela entregava as armas à cidade (para que esta pudesse se proteger) e marcava um dia para que a cidade fosse atacada.

No dia marcado, um exército da Aliança chegava à cidade, cercava-a e, geralmente em pouco tempo submetia-a ao seu domínio.

No governo de Auitzotl o grande templo recebeu sua última ampliação, ficando da maneira que os Espanhóis o encontraram, também em seu governo, a capital Asteca atingiu uma população recorde, (segundo Jacques Soustelle) mais de 500 mil e menos de um milhão de habitantes, ou seja, algo entre 750 mil habitantes vivendo em ilhas do lago Texcoco, mas como é possível sendo que uma ilha é um local limitado geograficamente?

Bem, os Astecas desenvolveram uma técnica que utilizaram para expandir Tenochtitlán consideravelmente, essa técnica consistia em fincar estacas no fundo do lago, uma bem próxima da outra, de modo a formarem uma espécie de barragem, depois, a água de dentro da estacas era drenada e em seu lugar era colocado lodo do fundo do lago, sendo assim, uma ilha artificial era criada. Nesta ilha (de onde as estacas nunca eram retiradas, para evitar desmoronamentos), só era possível fazer construções de pedra no centro, ficando as beiradas reservadas para construções de madeira e bambu, e também para o cultivo, ou seja, para fazendas. Graça a essa técnica, Tenochtitlán se expandiu (mesmo na área total da cidade) muito, chegando a se unir numa cidade só com uma ilha que inicialmente ficava bem distante: Tlatelolco, o maior mercado do México, anexado a Tenochtitlán por Axayacatl, em 1469, primeiro ano de seu governo.

Depois da rápida e brutal reconquista e expansão do Império promovida por Auitzotl, houve um longo período de relativa paz, que fez com que começassem a rarear os sacrifícios, uma vez que só os escravos eram sacrificados e, sem guerras, não havia escravos, sendo assim, a República precisava achar uma saída.

Voltou-se então a atenção para um dos quatro Reinos independentes (Tlaxcallan, Yopitzinco, Metztitlán e Teotitlán (este último era o único que mantinha relações amigáveis com Tenochtitlán)) incrustados no coração do Império: Tlaxcallan.

A exemplo de Tenochtitlán, Tlaxacallan era uma República Aristocrático-Militar, cuja capital era a cidade de Tlaxcala. Situavam-se relativamente perto do núcleo Imperial e constituíam a maior e mais perigosa "clareira" Imperial. Os Tlaxcaltecas, como eram conhecidos os habitantes de Tlaxcallan eram muito belicosos e hábeis arqueiros e guerreiros. Não se sabe ao certo se os Astecas nunca conseguiram ou nunca quiseram dominar Tlaxcallan, o fato é que quando a escassez de escravos para sacrifícios se iniciou, foi em Tlaxcallan que Tenochtitlán encontrou sua salvação. Em acordo com os governantes da República, os Astecas organizaram as chamadas Guerras Floridas, ou seja, disputas com caráter intermediário entre guerra e competição desportiva, onde o objetivo era apenas capturar inimigos vivos para o sacrifício, sendo assim, os Tlaxcaltecas capturavam alguns Astecas para sacrificarem a seus deuses e os Astecas, por sua vez, capturavam muitos Tlaxcaltecas para suprir a falta de escravos que lhes afligia.

É possível que mais do que a escassez de sacrifícios, o que tenha motivado os Astecas a realizarem as Guerras Floridas, tenha sido a seca que se abateu sobre o México, seca esta que foi interpretada como um castigo divino pela falta de sacrifícios.

É interessante notar que num dia comum em Tenochtitlán, ocorriam pelo menos dez sacrifícios, às vezes até mais. Em dias de festividades (que eram freqüentes, pelo menos uma por mês, e havia 18 meses), chegavam a morrer cerca de mil pessoas nas tábuas de sacrifícios Astecas.


6.9 – Montezuma e a volta de Quetzalcoatl:


Em 1503, depois de grandes façanhas realizadas em 17 anos de governo, Auitzotl morreu. Para ocupar seu posto, foi eleito seu filho Motecuhzoma II. Motecuhzoma II governou o México com pulso de ferro, era um homem duro, frio, mas ao mesmo tempo temeroso ante seus deuses. Conseguiu se fazer respeitar como o único soberano do México, desfazendo a Tríplice Aliança e assumindo para Tenochtitlán as funções das três cidades definitivamente, colocando, de fato, Texcoco e Tlacopán sob a condição de suas vassalas.

Motecuhzoma II expulsou de Texcoco Ixtlilxochitl, filho de Nezaualpilli, e principal pretendente ao trono do pai, pelo simples fato deste não aceitar a subserviência a Tenochtitlán. Se é que se pode aplicar a Motecuhzoma II a mesma frase que se aplica a Luís XIV, da França, ele "deitou na cama preparada por seus antecedentes", em especial por Auitzotl. De fato, ele foi o mais poderoso (não em termos de se sobrepor ao Tlatocan e ao Grande Conselho, coisa que ele nunca fez) governante que o México teve, depois de Itzcoatl.

Para o povo de Tenochtitlán, era quase uma divindade, não se podia encara-lo (a menos que se tivesse assento no Grande Conselho), suas roupas eram inutilizadas após seu uso, tudo o que ele tocava era considerado imbuído de uma energia pessoal e destrutiva a qualquer outra pessoa e, portanto, destruído. Quanto às regiões dominadas, eram poucas as que gostavam de Motecuhzoma II, mas nenhuma ousava desrespeita-lo e, por não terem ciência da existência do Ciuacoatl, nem tão pouco da organização política do Império, tomavam-no por Rei, o Rei dos Reis do México.

Porém, o Tlatoani também era muito espiritualizado e, por volta de 1512, começou a receber auspícios de que uma tragédia estava por ocorrer.

O maior medo do governante sempre foi que Quetzalcoatl retornasse para usurpar-lhe o poder, talvez por isso, ele tenha tido as visões que as crônicas Astecas dizem que teve.

Em 1518, coisas estranhas começaram a ocorrer, muitas pessoas acordavam durante a noite, em Tenochtitlán, com o som de uma mulher chorando por seus filhos mortos, enquanto isso, Motecuhzoma II avistava um cometa no céu. Pouco antes dos Espanhóis chegarem, levaram a Motecuhzoma II um estranho pássaro sem rosto, no lugar de um rosto, o pássaro tinha um espelho. Ao olhar no espelho, o Tlatoani viu guerreiros diferentes montando em animais nunca vistos, quando chamou seus sacerdotes para decifrarem o presságio, o pássaro desapareceu. É verdade que muitas dessas histórias são posteriores à conquista e provavelmente frutos da imaginação de indivíduos que vivenciaram o colapso de seu povo, mesmo assim, deve ser levado em conta que, desde 1492, com a viagem de Cristóvão Colombo, que a movimentação nas ilhas do Caribe é freqüente. Primeiro ocorreram contatos, depois a conquista de populações inteiras.

É verdade que os Astecas não tinham contato direto com tais populações, mas não é impossível especular a respeito de uma disseminação de informações, uma vez que quase quinhentos anos antes, quando Tula foi destruída, a notícia se espalhou tão longe que atraiu até mesmo os próprios Astecas de sua longínqua Aztlán até o México. Sendo assim, por que uma notícia ainda mais perturbadora; como achegada de seres estranhos, de pele clara, vindo do mar em embarcações gigantescas, montando cavalos (que aos olhos de quem nunca os havia visto pareciam mais bestas infernais) e atirando com estrondosas armas de fogo, capazes de matar dezenas em poucos instantes; não poderia ter sido disseminada até uma região nem tão longínqua?

Bem, na verdade há muito que os Astecas sabiam da existência de fenômenos como o aparecimento de indivíduos estranhos nas costas de Yucatán, isso porque, Colombo (que morreu na América julgando estar na Índia), em 1502, cruzou com um barco mercante Maia, carregado de tecidos, cacau e machados de cobre, além disso, em 1512, dois Espanhóis sobreviventes de um naufrágio foram parar em Yucatán, onde foram aprisionados pelos Maias, um destes (de nome Guerrero), inclusive, veio a ser tornar um "cacique" Maia. Em 1517, uma expedição Espanhola, liderada por Francisco Hernández de Córdoba, desembarcou na península de Yucatán, onde foi duramente repelida, sendo que dos 110 integrantes da expedição, 57 morreram, inclusive o próprio Francisco. Sendo assim, devido a tantos contatos, é muito pouco provável que os Astecas não estivessem sabendo das movimentações em suas costas, o que nos comprova que as ditas visões de Motecuhzoma II poderiam ser no máximo pesadelos causados pela angústia do inesperado.

Se mesmo com todos os contatos anteriores os Astecas ainda permanecessem ignorando a movimentação Espanhola, em 1518, pelo menos, eles deixaram de ignorá-la, com certeza, pois uma expedição liderada por Juan de Grijalva, desembarcou em Tuxpan, cidade litorânea do império Asteca, onde fez contato com os habitantes que lhe deram objetos de ouro, como presente, além de proferirem várias vezes a palavra "México! México!", ou seja, o nome de seu país, o nome do Império Asteca.


7 – A conquista do México:

hernan
Não se sabe se por coincidência, ou por caso pensado, mas a primeira hipótese é mais provável, os Espanhóis, liderados por Hernán Cortez desembarcaram em Tuxpan, em 1519, o ano previsto para uma possível volta de Quetzalcoatl. É bom que se saiba que o número 52 era muito importante para o culto Asteca, uma vez que além de ser o denominador das cerimônias do Fogo Novo, ainda era (em outra seqüência de anos) o denominador da possível volta de Quetzacoatl. Sendo assim, Hernán Cortez teve uma ajuda extra em sua campanha: o medo e a religiosidade de Motecuhzoma II.

7.1 – Cortez, o fiel servo de Deus e do Imperador:
Quase tudo o que se sabe sobre Hernán Cortez é devido às cartas que remeteu a Carlos V, Rei da Espanha e Imperador do Sacro Império Romano-Germânico (do qual a Espanha fazia parte, aliás, como Rei da Espanha ele era Carlos I, seu título Carlos V era como Imperador).



Foram cinco cartas no total, sendo que destas, algumas se perderam durante o tempo, entretanto, a segunda e mais importante permanece intacta, e é ela que nos conta como Cortez conquistou o Império Asteca.

Pois bem, no dia 10 de fevereiro de 1519, o Capitão Espanhol, depois de muito insistir com Carlos V, conseguiu a autorização para partir rumo a conquista do chamado Yucatán (nome pelo qual os Espanhóis designavam toda Mesoamérica, uma vez que ainda não tinham a plena consciência de que o Yucatán era apenas uma península desta), e foi o que fez. Deixou Cuba neste mesmo dia, levando com sigo um exército de porte médio e relativamente bem armado (508 soldados de infantaria (incluindo besteiros) 16 cavaleiros e 14 arcabuzeiros).


Rotas das tropas de Cortez



Cortez atingiu primeiramente a própria península de Yucatán, que, como sabemos, não pertencia ao território Asteca, ao contrário, era habitada por Maias. Lá, Cortez realizou expedições as quais culminaram na libertação de Aguilar (um dos dois náufragos que haviam sido presos pelos Maias).

Apenas em abril, o grupo chefiado por Cortez chegou aos domínios Astecas, desembarcando em Tuxpan, que eles denominara Vila Rica de Vera Cruz (é importante notar que os Espanhóis tendiam a ignorar o nome indígena das cidades, sendo assim, rebatizavam-nas com nomes de cidades da própria Espanha, ou então com nomes que lembrassem riquezas ou santos da Igreja Católica). De lá, eles rumaram para o sul, tento atingido Cempoal (que batizaram de Sevilha) e depois uma região onde começaram a construção de um forte, que depois se tornou a cidade de Vera Cruz (não confundir com Vila Rica de Vera Cruz).

Com efeito, os Espanhóis permaneceram quatro meses nessas três cidades, tendo se fortalecido ali para, de lá, iniciarem a conquista do México. Nos quatro meses em que permaneceram junto a costa, Cortez e os seus tiveram que impedir a tentativa de Francisco Garay, governador da Jamaica, de iniciar também uma campanha de conquista daquela mesma região.

Em Vera Cruz, Cortez recebeu enviados de Motecuhzoma II (tais enviados eram o Uey Calpixqui da região, que vivia na cidade de Cuetlaxtlán e seus comandados), que lhe deram presentes de todos os tipos, além de lhe falarem da grandeza e riqueza do Império, bem com de sua capital: Tenochtitlán.

A visita do Uey Calpixqui aguçou a cobiça do Espanhol que começou a organizar sua partida em pouco tempo, mandando vir de Cuba e da Jamaica tudo o que precisasse, além de começar a fazer sua grande descoberta, aquela que seria fator decisivo para a conquista.


7.2 – A Política de Alianças:

Em suas andanças pela península de Yucatán, Cortez recebeu como presente várias coisas, dentre elas, algumas escravas (encarregadas de satisfazerem o apetite sexual dos Espanhóis), dadas pelo chefe de uma cidade batizada de Tabasco. Dentre estas escravas estava Malintzin (que depois foi batizada e recebeu o nome de Marina, Cortez se casou com ela e teve um filho: Don Martín Cortez), a filha de um chefe Maia, que havia sido escravizada quando caiu prisioneira de um rival de seu pai. A dita índia era muito inteligente e culta, tanto que falava Maia e Nahuatl (a língua oficial do Império Asteca). Logo Cortez percebeu que utilizando Aguilar (o ex-prisioneiro que por ter ficado sete anos em poder dos Maias havia aprendido sua língua) e Malintzin juntos, ele poderia conversar com os chefes das cidades tributárias Astecas.

Conversando com os chefes das cidades de Cempoal e Tuxpan (que como foi dito já haviam sido conquistadas e renomeadas), Cortez percebeu que eles não seguiam o Império Asteca por amor, por patriotismo, mas sim que eram vassalos obrigados pela força. Esta descoberta mudou os rumos da campanha que Cortez estava prestes a iniciar, pois o conquistador percebeu que poderia utilizar os índios desgostosos do domínio Asteca para engrossar suas fileiras.

Foi exatamente isso que o Espanhol fez, em 16 de agosto de 1519, após quatro meses no litoral, ele partiu de Cempoal com destino certo: Tenochtitlán.

Em sua jornada, Cortez levou 15 cavaleiros, 11 arcabuzeiros, 260 soldados e 40 besteiros, além de alguns senhores principais de Cempoal, bem como escravos e escravas que lhes faziam comida e prestavam serviços.

Com este pequeno numerário, iniciou sua marcha, sempre demonstrando aos nativos um caráter de libertador, de salvador, o que fez com que dentro em pouco tempo, mais de setecentos índios já o seguissem como tropas de apoio. Quando estava próximo de Tlaxcallan, mensageiros de Motecuhzoma II vieram vê-lo e lhe disseram que não passasse pelo meio daquela região, pois os de Tlaxcallan eram inimigos de sua gente e os Espanhóis seriam maltratados. Porém, os de Cempoal eram aliados de Tlaxcallan e, sendo assim, afirmaram que Cortez poderia ir tranqüilamente por dentro de suas terras. Preterindo o conselho dos mensageiros Astecas em relação ao de seus aliados de Cempoal, Cortez resolveu ir pelo meio de Tlaxcallan.

Quando já estava próximo da capital, Tlaxcala, o efetivo do Capitão se deparou com mais de cinco mil índios Tlaxcaltecas, todos prontos para a batalha. Os índios começaram a atacar e em pouco tempo mataram dois cavalos e feriaram outros três, além de ferirem três pessoas. Cortez ficou apavorado com o fato de estar sendo agredido com flechas e pedras por selvagens em meio às suas terras, sendo assim, enviou dois senhores de Cempoal como mensageiros à capital Tlaxcalteca.

Ao cair da noite, os dois voltaram machucados e chorando, dizendo que tinham sido presos e que só estavam vivos porque tinham conseguido fugir. Dentro dessas condições de hostilidade, Cortez resolveu atacar os inimigos e, no dia seguinte, houve nova batalha entre Espanhóis e Tlaxcaltecas (é interessante que se note que o efetivo Tlaxcalteca nos é fornecido pelo próprio Cortez, sendo assim, temos fortes razões para suspeitar que o Capitão exara na quantidade de seus oponentes para, com isso, engrandecer sua vitória). Cortez e seus aliados indígenas venceram a batalha e durante a noite queimaram povoados, fazendo mais de quatrocentos prisioneiros. No outro dia, mais de 150 mil (difícil de acreditar num número tão grande) índios de Tlaxcallan atacaram o acampamento Espanhol, sendo que chegaram mesmo a enfrentar os Espanhóis e seus aliados no combate corpo-a-corpo. Mais difícil de acreditar é o fato de que em apenas quatro horas, os Espanhóis dominaram a situação, expulsando os inimigos todos e, o mais incrível, sem sofrer nenhuma perda, ou qualquer dano (é óbvio que o contingente inimigo era muito menor do que o relatado, com certeza, deveria ser, no máximo, sete ou oito mil, ainda assim um número fabuloso, visto que os Espanhóis e seus aliados juntos não chegavam a 1500).

Em represália a tal atitude, Cortez continuou invadindo povoado à noite e queimando casas. Depois de queimarem dez povoados, os de Tlaxcallan vieram pedir trégua. Porém era apenas uma trégua falsa, na medida em que o que desejavam realmente era fazer os Espanhóis acreditarem em sua lealdade e, numa noite atacarem e destruírem-nos. Porém, Cortez descobriu o plano e além de cortar as mãos de cinqüenta índios, como forma de aviso, ainda fez com que os homens de Sicutengal, um general de Tlaxcala batessem em retirada, com medo de seus cavalos. Depois disso, o Capitão Espanhol realizou uma marcha triunfal por toda Tlaxcallan, fazendo-se aceitar como aliado e, por fim, recebeu vassalagem da capital, Tlaxcala, indo se estabelecer lá.


7.3 – La Noche Triste:

Como já se sabe, Tlaxcallan não pertencia ao Império Asteca, sendo uma República inimiga deste e incrustada em seu coração. Na região existiam cerca de quinhentos mil guerreiros (mais ou menos 1,5 milhão de habitantes). A capital, Tlaxcala, é descrita por Cortez como sendo a segunda mais bela cidade do México (perdendo apenas para Tenochtitlán, que a essa altura, ele ainda não conhecia, mas que, como veremos, veio a conhecer depois). Devido ao ódio que os Tlaxcaltecas alimentavam em relação aos Astecas, em pouco tempo, a conquista do Império se tornou uma empresa Hispano-Tlaxcalteca.

Depois de alguns dias hospedado em Tlaxcala, nos quais ficou se recuperando da marcha e das sucessivas batalhas, Cortez resolveu recolocar-se em posição de marcha. Foi seguido, além de seus antigos seguidores, por cerca de cem mil índios de Tlaxcallan, dos quais, apenas seis mil foram realmente determinados a segui-lo até Tenochtitlán.

No caminho para Tenochtitlán, os Espanhóis (já tendo deixado Tlaxcallan) foram recebidos em Churultecal (ou Cholula), onde a mando de Motecuhzoma II, haviam armado uma emboscada, porém, Cortez descobriu e conseguiu se desvencilhar, fazendo a cidade também se tornar sua aliada.

Saindo de Churultecal, o Capitão retomou sua marcha para a capital Asteca, agora guiado por mensageiros do próprio Motecuhzoma II, que, apesar de terem pedido desculpas pelo ocorrido, continuavam a rogar aos Espanhóis que não fossem a Tenochtitlán, sempre afirmando que a cidade era muito pobre e que Cortez e os seus iriam passar necessidades nela.

Cortez, no entanto, continuava determinado em ir até lá e, em 8 de novembro de 1519, finalmente chegou a Tenochtitlán. Logo na entrada da cidade foi recebido por Motecuhzoma II, que o saudou beijando o chão. Cortez presenteou-o com um colar de diamantes e foi presenteado com um colar de ouro. O Tlatoani Asteca conduziu os Espanhóis até seu palácio (que fora construído por Axayacatl), onde estes se instalaram e onde Motecuhzoma II se tornou uma espécie de prisioneiro de Cortez.

O Capitão entendeu por bem manter o Tlatoani Asteca livre, mas vigiado de perto, de modo que não pudesse dar nenhuma ordem nem preparar nenhuma emboscada sem que os Espanhóis soubessem (entendamos que Cortez não conseguiu perceber a verdadeira organização política Asteca, sendo assim, acreditava que Motecuhzoma II (a quem ele chamava Montezuma) fosse um Imperador com caráter divino, assim como os Faraós do Egito antigo).

Motecuhzoma II impediu que os seus tomassem qualquer tipo de atitude contrária aos Espanhóis, pois tinha a plena convicção de que se tratavam de enviados de Quetzalcoatl (uma vez que Cortez sempre dizia que vinha em nome de Carlos V, seu grande senhor, Imperador ao qual todos se curvam, Motecuhzoma II acreditou que Carlos V fosse Quetzalcoatl e que Cortez fosse seu enviado). Para essa crença, contribuíram várias coisas, por exemplo, a proibição da realização de sacrifícios humanos pelos Espanhóis (como vocês devem se recordar, Quetzalcoatl proibia sacrifícios, os quais só se generalizaram quando este foi expulso por Tezcatlipoca), a destruição dos ídolos Astecas e a sua substituição por imagens de Cristo e Nossa Senhora (as quais os Astecas não conheciam e julgavam ser de Quetzalcoatl, uma vez que não havia uma padronização para a representação das entidades divinas dentro do Império, sendo que cada cultura as representava de uma forma), além da confirmação de Cortez, pois este, assim que soube que Motecuhzoma II o confundira com seu deus, fez com que acreditasse que estava certo, ou seja, que Carlos V era Quetzalcoatl e que ele, Cortez, era seu enviado.

Por quase oito meses esta situação perdurou, ou seja, Motecuhzoma II preso e acreditando piamente que seus algozes eram divindades e os Espanhóis, por sua vez, roubando tudo de valioso que encontravam.

No final de maio de 1520, Cortez teve que sair de Tenochtitlán, deixando lá muito dos seus, chefiados por Alvarado. O motivo que levou o Capitão a deixar a capital Asteca foi a chegada, a Vera Cruz, de Pánfilo de Naváez, um enviado de Diego Velásquez, para conquistar o que Cortez já havia conquistado. Cortez foi combater seu adversário, o qual não levou muito tempo para neutralizar e expulsar.

Porém, enquanto Cortez estava fora, Alvarado, temeroso do clima de insatisfação que havia se instalado entre a aristocracia Asteca devido ao longo cativeiro de seu Tlatoani, acabou por cometer um grave erro. No começo de junho, os Astecas se reúnem para celebrar a festa de Uitzilopochtli, a principal festa divina de Tenochtitlán, sendo assim, saem às ruas com suas roupas de festa e realizam uma grande procissão. Alvarado pensou que as plumas e a procissão indicassem uma movimentação no sentido de atacar os Espanhóis, sendo assim se lançou contra o povo, realizando uma grande matança.

Sem saber, Alvarado matou muitos membros do Grande Conselho, o que provocou a tristeza geral do povo e a indignação do Ciuacoatl e do Tlatocan. Estes se reuniram na mesma noite, junto com o que restou do Grande Conselho e depuseram Motecuhzoma II, acusando-o de colaborar para o fim do Império. Para o seu lugar, nomearam Cuitlahuac, seu irmão, que junto com seu filho, Cuauhtemoc (eleito Tlacateccatl, ou seja, o membro do Tlatocan que é responsável pelo comando das tropas), iniciou um ataque maciço à base dos Espanhóis.

Cuauhtemoc sempre fora um guerreiro, antes de ter sido eleito para o Tlatocan, havia sido um grande Guerreiro-Jaguar, sendo muito respeitado e amado pelos exércitos. Sendo assim, sob sua liderança, os Astecas destruíram quase todas as pontes que ligavam Tenochtitlán às margens do lago (o que impedia os Espanhóis de fugirem) e começaram a sitiar o castelo de Axayacatl (onde Motecuhzoma II e os Espanhóis estavam alojados).

Quando soube do ocorrido, Cortez (que já havia derrotado Narváez) retornou às pressas para Tenochtitlán, onde teve que forçar sua entrada. Chegando lá, não sabia que Motecuhzoma II havia sido deposto (inclusive, nem mesmo Motecuhzoma II sabia), sendo assim, pediu a ele que fosse ao oratório do palácio falar a seu povo, pedir que parassem os ataques. Motecuhzoma II foi, mas antes mesmo que começasse a falar, foi recebido por uma chuva de pedras e por gritos de "traidor, traidor". As pedras atingiram Motecuhzoma II na cabeça e, em apenas dois dias, ele morreu. Pensando que seu ato demonstraria sua grandeza e pacificaria os Astecas, Cortez entregou o corpo do soberano morto aos membros do Tlatocan. Estes; juntamente com Cuitlahuac, o novo Tlatoani; receberam o corpo e aceitaram a trégua.

Cortez, pensando que havia pacificado a cidade, retornou para o palácio de Axayacatl e ordenou que seus mensageiros fossem levar as boas novas para as cidades onde ele havia deixado Espanhóis, porém, os mensageiros foram capturados antes mesmo que pudessem sair da capital e retornaram ao palácio, todos feridos, para dizer a Cortez que os Astecas retomavam a ofensiva.

O palácio foi cercado e, com flechas incendiárias, começou a ser alvejado. Em pouco tempo estava em chamas. Os Espanhóis conseguiram apagar o fogo e expulsar os Astecas, porém, ficaram resumidos apenas ao castelo de Axayacatl (que estava num estado de semi-ruína depois do cerco que sofrera). Construíram máquinas de guerra e tentaram pacificar a cidade, mas depois de sofrerem sucessivas derrotas, perderem muitos homens e cavalos, além de já estarem quase sem água, comida e munição, os Espanhóis resolveram armar um plano de fuga, precisavam abandonar Tenochtitlán, pois os Astecas pretendiam mata-los de fome e sede, presos dentro de seu castelo.

Hernán Cortez ordenou a construção de uma ponte móvel, de madeira, que seria carregada por diversos homens (cerca de 40), esta ponte seria colocada sobre as parte quebradas das pontes originais, para assim os Espanhóis poderem passar.

Quando a ponte ficou pronta, no dia 30 de junho, eles resolveram fugir. Passaram por algumas pontes, mas apenas Cortez e sua comitiva principal (algo em torno de vinte homens) conseguiram deixar Tenochtitlán passando por ela. Os demais tiveram que sair a nado. Devido ao grande peso de suas armaduras e do ouro que carregavam nos bolsos, muitos se afogaram, outros, por ficarem para trás, foram trucidados pelos exércitos de Cuauhtemoc. Menos de cem Espanhóis (e 24 cavalos) sobreviveram (morreram 150 Espanhóis, 45 cavalos e 2000 Tlaxcaltecas) ao que ficou conhecido como "La Noche Triste", ou seja, "A Noite Triste".

Saídos de Tenochtitlán, os Espanhóis foram para Tlacopán (que os Espanhóis batizaram de Tacuba), onde contasse que Cortez teria sentado embaixo de uma árvore e chorado. Reagrupados, Cortez e seus homens deram conta das baixas, além disso, perceberam que muitos estavam feridos (o próprio Cortez perdeu os movimentos da mão esquerda em decorrência de uma flechada) e que os cavalos não eram mais capazes de correr, apenas de andar, pois também estavam feridos.

Os Espanhóis costearam o lago Texcoco no sentido horário até chegarem a Tlaxcala, onde foram acolhidos. A campanha de conquista do Império Asteca teria sido toda perdida se, em Tlaxcala, Cortez não tivesse encontrado o apoio dos Tlaxcaltecas, dos Otomi e de Ixtlilxochitl (aquele que Motecuhzoma havia afastado da sucessão de Texcoco) e seus aliados.


7.4 – A Ditadura Asteca:

Cuitlahuac, o sucessor de Motecuhzoma II, governou apenas oitenta dias, pois morreu em decorrência de uma epidemia de varíola que se instalou em Tenochtitlán depois da volta de Cortez (Cortez trouxe consigo muitos reforços, mais armas, mais cavalos e mais escravos, dentre eles, um escravo negro, de Cuba, que estava com varíola; o escravo morreu logo, mas os índios, que não tinham anticorpos para a doença, começaram a morrer dela também).

Com a morte de Cuitlahuac, o exército aclamou Cuauhtemoc como seu novo governante. Visto que a situação era calamitosa, ninguém fez menção de impedir sua indicação, o que contrariava as regras da República Asteca, onde o Tlatoani era escolhido pelo Grande Conselho e governava sempre tendo que ouvir a este e ao Tlatocan, além de dividir seu poder com o Ciuacoatl. Porém, Cuauhtemoc era muito carismático, é inclusive descrito por cronistas da conquista como sendo o índio mais altivo do México, o que fez com que suas decisões fossem tomadas como lei, e não discutidas ou questionadas.

Com efeito, o governo de Cuauhtemoc foi muito semelhante a uma Ditadura Romana, ou seja, um governo absoluto, no qual a palavra do governante é a única lei, mas que se instala apenas em épocas de calamidades profundas.


7.5 – A Águia que Tomba:

Curiosamente, o nome de Cuauhtemoc significava: "A Águia que Tomba", o que mais parecia um sinal dos deuses, pois em seu governo, o Império cairia definitivamente.

O novo Tlatoani organizou a cidade para produzir num ritmo de guerra, enviou mensageiros para todas as cidades que compunham o Império, com a seguinte mensagem: "Todos os que ajudarem os Astecas na guerra contra os invasores serão liberados dos tributos por dois anos". Além disso, o governante deu maior ênfase ao exército.

Porém, Cuauhtemoc não pode conter a epidemia de varíola, nem suprir a falta de água potável (visto que os Espanhóis destruíram os aquedutos que a levavam para Tenochtitlán), além disso, as populações dominadas continuavam a ver os invasores como libertadores, e não como conquistadores que estavam prestes a destruírem suas culturas e retirarem sua liberdade, sendo assim, não deram ouvidos aos apelos do Tlatoani Asteca.

Cortez reuniu de novo seus homens, conseguiu aumentar suas tropas, comprar mais cavalos e canhões, além disso, trouxe mais arcabuzes e muita pólvora. Com a ajuda da mão-de-obra indígena, construiu treze navios nos quais colocou os canhões e, com eles, realizou o cerco à capital Asteca.

Além dos tiros de canhão, os Espanhóis realizaram vinte reides em apenas 96 dias à própria cidade, sendo expulsos pela resistência indígena em todos.


Quando finalmente, no dia 13 de agosto de 1521, no vigésimo ataque que faziam a Tenochtitlán, os Espanhóis finalmente conseguiram aniquilar as tropas Astecas, marchar pela capital e fincar sua bandeira no topo do Grande Templo, ficaram horrorizados com o que viram: por onde passavam, havia cabeças de Espanhóis, seus aliados indígenas e de cavalos; todas fincadas em estacas e dispostas ao longo das ruas principais.


7.6 – Motivos que possibilitaram a conquista:

Além da superioridade tecnológica gritante que os Espanhóis possuíam em relação aos Astecas; com armas de fogo e de ferro, contra arcos e flechas e armas de sílex e madeira; também há que se levar em conta outros fatores, talvez até mais importantes do que as armas em si.

Na realidade, o fato de as armas Espanholas serem melhores, não garantira sua vitória, pois o efetivo dele era infinitamente menor e, mesmo que os nativos estivessem totalmente desarmados, ainda assim não poderiam ter sido derrotados apenas pelas armas dos conquistadores. Com certeza a política de alianças de Cortez foi um dos maiores trunfos dos Espanhóis (sendo posteriormente, em 1532, copiada por Francisco Pizarro na conquista do Tawantinsuyu (o Império Inca)). Além da política de alianças, que trouxe para o lado dos Espanhóis todos os povos descontentes com a dominação Asteca, existem outros fatores menores.

O emprego de animais em combate, pois os Espanhóis utilizavam, além dos cavalos (que lhes conferiam maior agilidade e poder contra infantarias), ferozes cachorros, que eram soltos no campo de batalha e, além de aterrorizarem os índios, faziam grande estrago, pois eram treinados para matar.

Outro fator, foram as técnicas de batalha, uma vez que os Astecas lutavam para fazer prisioneiros, que sacrificavam depois, enquanto que os Espanhóis lutavam para matar o maior número de indivíduos, o que é muito mais fácil e rápido do que a captura em massa. Além disso, a ingenuidade dos tributários Astecas foi importante, pois para eles, os Espanhóis eram apenas mais um povo lutando contra o domínio de um antigo Império, como os próprios Astecas já tinham feito antes, quando derrubaram o crescente Império de Azcapotzalco. Porém, os Espanhóis não queriam tornar os índios apenas seus tributários, mas queriam destruir sua religião (impondo-lhes o Catolicismo, tido como única verdade), destruir sua cultura (fazendo-os meros dominados da cultura Européia) e escravizar seu povo (fazendo-os trabalhar em suas minas de ouro e prata).

Além desses fatores todos, deve-se ressaltar mais dois: a crença de Motecuhzoma II de que os Espanhóis eram enviados de Quetzalcoatl, o que o impediu de impor resistência aos conquistadores. E a guerra biologia inconsciente que os Espanhóis travaram com os índios, expondo-os a diversos tipos de doenças que, para eles, eram desconhecidas (tais como a varíola, a gripe, a sífilis, a tuberculose, dentre outras) e, para as quais não tinham anticorpos.

Todos esses fatores, em maior ou menor grau, mas todos juntos, contribuíram para a conquista do Império Asteca, tornando-a possível.


7.7 – O que aconteceu depois da conquista:

Após a conquista de Tenochtitlán, Cortez ordenou sua destruição, como um exemplo a todos os que se atrevessem a contrariar os desejos de Carlos V. Cuauhtemoc foi preso e mantido como Tlatoani até 1525, pois Cortez julgava que seria mais fácil conquistar uma região unificada por um governante do que várias regiões divididas.

Os Astecas jogaram todo o ouro que possuíam no fundo do lago Texcoco, para impedir os conquistadores de pegarem-no. Mesmo assim, a tomada de Tenochtitlán foi muito lucrativa para os Espanhóis, pois eles encontraram as listas de tributos dos Astecas, o que lhes forneceu uma rota segura para as regiões produtoras de ouro e prata, ficando as regiões produtoras de outras coisas, em segundo plano na conquista.

Em 1522, todo o Império Asteca já estava nas mãos da Espanha e Cortez foi nomeado o Governador e Capitão-Geral da Nova Espanha (como foi batizado o Império Asteca após sua conquista).

Em 1527, os Espanhóis iniciaram a conquista da península de Yucatán, na qual sofreram com a ferrenha resistência Maia, estes só se renderam e foram dominados definitivamente em 1546.

A Nova Espanha se estendeu até o Novo México (atual estado dos EUA) e o Arizona, onde os índios impuseram uma forte resistência à dominação, só sendo exterminados muito tempo depois, pela marcha de expansão dos EUA.

Em 1535, a Nova Espanha deixou de ser uma Capitania para se tornar um Vice-Reino, sendo nomeado Dom Antônio de Mendonza como primeiro Vice-Rei da Nova Espanha.

No lugar onde se situava a cidade de Tenochtitlán, foi erigida a Cidade do México (realização da drenagem de boa parte do lago Texcoco), que se tornou a capital da Nova Espanha. Por ter sido edificada sobre o solo pantanoso do fundo do lago Texcoco, a Cidade do México apresenta, hoje, uma extrema fragilidade, podendo desabar com qualquer tremor de terra.

Cuauhtemoc foi obrigado a ver sua capital ser destruída e, em seu lugar, edificada uma cidade nos moldes Europeus, além de toda a tristeza a que foi submetido, ainda acabou enforcado na praça principal da Cidade do México, em 1525.Imagem Mapa outros exploradores


As rotas dos exploradores Espanhóis na América







7.8 – O pensamento após a conquista:

Antes da conquista do México, os Espanhóis só haviam se deparado com populações indígenas Neolíticas, o que os havia feito pensar que os indígenas eram pouco mais do que macacos. Sendo assim, a doutrina de Juan Ginés de Sepúlveda, um clérigo Espanhol, havia se disseminado. Segundo Sepúlveda, os índios, assim como os negros, não tinham almas, não eram passíveis de salvação, não eram filhos de Deus, o que permitia sua escravização.

Porém, depois da conquista do Império Asteca e dos povos Maias de Yucatán (o que aconteceu simultaneamente a descoberta e início da guerra contra os Incas, no Tawantinsuyu), um outro clérigo, o Frei Bartolomé de Las Casas, escreveu um livro: Brevíssima Relação da Destruição das Índias, também chamado de: Paraíso Destruído. Neste livro, Las Casas nos mostra que a organização social desses grandes povos americanos era, em muitos casos, superior a organização dos Europeus, além disso, eles possuíam sistemas capazes de concentrar populações gigantescas (Tenochtitlán, na época da conquista era, provavelmente, a segunda maior cidade do mundo, perdendo apenas para Chang’an, na China).

A teoria de Las Casas fez com que mudasse a visão Européia sobre os indígenas americanos sendo proibida sua escravização pela Igreja. Não é conveniente aqui, neste texto, entrar nos outros méritos que levaram a Igreja Católica a proibir a escravização indígena, mas é certo que o lucrativo tráfico negreiro (do qual a Igreja se beneficiava também), influenciou na sua decisão de proibir a escravização dos ameríndios, pois assim, os colonizadores (cristãos que eram) seriam obrigados a importarem os negros da África, enriquecendo, dentre outros, a própria Igreja.

Porém, pode-se dizer que a teoria de Las Casas, fundamentada na existência de tais civilizações, pelo menos deu o respaldo para a Igreja poder realizar tal proibição, além de ter poupado muitos índios (porém não a maioria, apenas uma minoria visto que os Espanhóis, que nunca levaram muito a sério a proibição da Igreja, inventavam subterfúgios como as encomiendas, haciendas e (no caso do Peru) as mitas, para escravizar os índios, sem que eles ostentassem o título de escravos) da escravidão.


8 – Bibliografia

ABREU, Aurélio M. G. de. Civilizações que o mundo esqueceu.

BENSON, Elizabeth, COE, Michael e SNOW, Dean. A América Antiga: Mosaico de Culturas. Vol. 1, in Grande Impérios e Civilizações.

BETHELL, Leslie (org.). História da América Latina. Vol. 1. América Latina Colonial.

CORTEZ, Hernán. O Fim de Montezuma: Relatos da Conquista do México.

CROSHER, Judith. Os Astecas.

FIEDEL, Stuart J.. Prehistoria de América.

GENDROP, Paul. A Civilização Maia.

GÖÖCK, Roland. Maravilhas do Mundo.

LAS CASAS, Frei Bartolomé. Brevíssima Relação da Destruição das Índias (Paraíso Destruído).

LAZZAROTTO, Valentim e PILETTI, Nelson. História & Vida: As Américas.

SOUSTELLE, Jacques. A Civilização Asteca.

Vários. Grande Enciclopédia Delta Larousse. Vol. 8.



Obs.: Além dos referidos livros, utilizei-me de sites encontrados com a ajuda de sites de busca, nos quais utilizei como palavras-chave: Astecas, Aztecs, Asteca, Aztec, Maias, Mayans, México, Mexico, Cortez e Conquistas.



Danilo José Figueiredo



Fonte: www.klepsidra.net

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