Frases

"EU NÃO PREVEJO O FUTURO, EU PREVINO SOBRE O FUTURO!" - MAGO DAM

O Santo Daime

O movimento religioso do Santo Daime começou no interior da floresta amazônica, nas primeiras décadas do século XX, com o neto de escravos Raimundo Irineu Serra. Foi ele que recebeu a revelação de uma doutrina de cunho cristão, a partir da bebida Ayahuasca (vinho das almas), por nós denominada Santo Daime.

A bebida, de uso bastante difundido pelos povos indígenas da região, é obtida pela coccão de duas plantas, o cipó Jagube (banesteriopsis caapi) e a folha Rainha (psicotrya viridis) ambas nativas da floresta tropical. Ela tem propriedades enteógenas, isto é, produz uma expansão de consciência responsável pela experiência de contato com a divindade interior, presente no próprio homem.

Segundo o próprio Mestre Irineu, ele recebeu essa Doutrina através de uma aparição de Nossa Senhora da Conceição,em uma das primeiras vezes que tomou a bebida, na região de Basiléia, Acre. Os hinos do Mestre, que ele começou a receber a partir do começo da década de 30 trouxeram uma forte ênfase nos ensinos cristãos e uma nova leitura dos Evangelhos à luz do Santo Daime, para afirmar, nos tempos de hoje, os mesmos princípios de Amor, Caridade e Fraternidade humana.

O que é nossa religião?



O Culto Eclético da Fluente Luz Universal é um trabalho espiritual, que tem como objetivo alcançar o auto-conhecimento e a experiência de Deus ou do Eu Superior Interno. Para tanto, se ultiliza, dentro de um contexto ritual tido como sagrado, da bebida enteógena sacramental conhecida como ahyausca e que foi rebatizada pelo Mestre Irineu como Santo Daime. O uso de uma substância enteógena como sacramento parece ter feito parte das principais tradições religiosas da antiguidade e fornecido a base visionária de muitas das principais grandes religiões hoje existentes no mundo.

Nosso culto litúrgico, que se resume em comungar, nas datas apropiadas, a bebida à guiza de sacramento, se denomina Eclético, por que suas raízes estão impregnadas de um forte sincretismo entre vários elementos culturais,folclóricos e religiosos.O uso do sacramento Santo Daime é relizado nas datas do seu calendário festivos, obedecendo as regras rituais que foram estabelecidas pelo Mestre Irineu e pelo Padrinho Sebastião.



Um Conselho Espiritual dirige a Igreja e zela pela manutenção da tradição e dos princípios , ao mesmo tempo que procura adequá-las aos novos contextos .As principais festas do calendário religioso são os Hinários e os Feitios.Hinários são doze horas seguidas de cânticos e bailado em torno de uma estrela de seis pontas, ao som de diversos instrumentos e maracás.Feitios são as festas de produção do sacramento, quando toda a comunidade se mobiliza para fazer a bebida sacramental, que será consumida durante o calendário de trabalhos do ano.

Outro elemento importante da espiritualidade daimista elaborada por Padrinho Sebastião foi a comunidade. A comunidade se constitui no ponto de referência comum para o trabalho espiritual de todos os membros.É a ela que deve retornar todas as boas aquisições que fazemos no nosso aprendizado espiritual.

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A Doutrina do Santo Daime ou a Doutrina do Mestre Irineu, como também é identificada, nasceu dentro da floresta, brotou no seio do seu povo, uma gente muito humilde e digna. A sua mensagem, que se encontra reunida na forma de coleções de hinos recebidos pelos mestres e adeptos,prega o amor pela natureza e consagra o mundo vegetal e todo o planeta como sendo o cenário sagrado da nossa mãe-terra.

Nosso trabalho mantém portanto vínculos muito profundos com a floresta e pela causa da sua preservação .Isso chega a ser uma questão de fundamento espiritual .Para desenvolver essa parte social e ambiental do trabalho da nossa Igreja na Amazônia,foi criado o Instituto de Desenvolvimento Ambiental Raimundo Irineu Serraque se empenha hoje em gerir e buscar parcerias para projetos de desenvolvimento auto-sustentável , numa região de quase 200 000 ha de florestas, pertencentes aFloresta nacional do Purus, onde estamos assentados há cerca de 16 anos.

Histórico da Legalização

Desde os anos 60, que pesquisadores e autoridades têm acompanhado o desenvolvimento e a expansão da nossa linha enteógena espiritualista. Em 1982 foi formada a primeira comissão multidisciplinar (com médicos, antropólogos, psicólogos, representantes do Ministério da Justiça, Polícia Federal e Exército) para averiguar in loco o fenômeno do Santo Daime / Ahyauasca, na fase final de vigência dos governos ditatoriais militares.

Duas comissões visitaram, primeiro o seringal Rio do Ouro e depois o embrião da Vila Céu do Mapiá, saindo muito bem impressionadas com o que viram. Muitos testes e entrevistas foram feitos com amostragens significativas da população local. Seus resultados atestaram excelentes índices na aferição e avaliação de diversos aspectos da vida social, espiritual e pessoal dos seus membros. Foi constatado um forte vínculo de coesão social e cooperativismo nato entre os participantes da Comunidade do Daime. Foram observados, também, graus bastante superiores de saúde, educação, organização e qualidade de vida em comparação com todos os assentamentos similares encontrados calha rio Purus.

Em 1984, através do CONFEN - Conselho Federal de Entorpecentes, orgão do Ministério da Justiça encarregado de planejar e gerir a política governamental sobre o uso de drogas e fármacos, foi criada uma Comissão de Trabalho para estudar específicamente a questão do uso ritual da ahyauasca. Ao longo de 1985 e 1986, este grupo realizou diversas visitas às comunidades usuárias, inclusive ao Céu do Mapiá, onde confirmou os pareceres positivos das comissões anteriores.

Foram constatados novamente um elevado grau de organização social, solidariedade, coesão e capacidade de trabalho da comunidade. Os indicadores de qualidade de vida lá encontrados (ausência de alcoolismo, desnutrição crônica, mortalidade infantil e delinquência quase 0, ausência de violência, padrões dignos de moradia, alimentação e trabalho) levaram o Grupo de Trabalho do CONFEN a concluir, em 1987 que:


"os rituais religiosos realizados com a bebida sacramental Santo Daime/Ahyauasca não traziam prejuízos à vida social e sim, contribuiam para a sua maior integração, sendo notório os benefícios testemunhados pelos membros dos grupos religiosos usuários"

Por outro lado, o resultado das pesquisas farmacológicas e psico-sociais junto às comunidades de usuários, constatou a não existência de nenhum risco de adição e dependência no uso dessas substâncias em contexto ritual. Foram pedidos vários pareceres aos mais eminentes pesquisadores da área de psico-f·rmicos, e todos foram taxativos em afirmar, corroborando resultados já anteriormente divulgados, de que:


"o Santo Daime não apresenta características do abuso de drogas, pelo seu uso ritualístico, descontínuo e ausência de alterações comportamentais."

Outros Pareceres Favoráveis

Em 1991, outras pressões e denúncias de setores descontentes com a legalização da bebida levaram à constituição de uma nova comissão que executou novos estudos e visitas às principais entidades ahyauasqueiras e daimistas. O CONFEN voltou a se manifestar (veja ata de Reunião do Conselho) pela continuação de um acompanhamento do uso ritual da bebida, sem adotar orientação proibicionista

Com isso se beneficiou o governo, a comunidade científica e de pesquisa, interessada nesse campo e, claro, as entidades usuárias, que puderam continuar desenvolvendo o seu trabalho de forma cada vez mais responsável, realizando inúmeros benefícios aos seus membros, não apenas na parte espiritual, como também em termos de assistência social e caridade

Pesquisa Científica 

Uma equipe de 10 neurocientistas da USP/SP, do Instituto Internacional de Neurociência de Natal Edmund e Lily Safra, da universidade Federal do Rio Grande do Norte, e do Centro IBM JB Watson (Nova York) tem apresentado em congressos um trabalho com algumas revelações surpreendentes sobre a Ayahuasca. Draulio de Araujo, Sidarta Ribeiro e seus colegas trabalharam com dez usuários frequentes do Chá.

O grupo de pesquisa registrou imagens de atividade cerebral obtidas por ressonância magnética funcional durante tarefas visuais antes e depois da ingestão do Chá. Todos relataram aumento da capacidade de imaginação, com as cenas tornando-se muito mais vívidas e reais - apesar dos olhos bem fechados. As áreas cerebrais mais ativadas estão associadas com a recuperação de memórias episódicas (fatos, lugares, pessoas), ação intencional e o processo visual. sua ordem unida, contudo é reorganizada pala Ayahuasca. Na vigília sem o chá, sensações interiores são intencionalmente interpretadas à luz de memórias e servem de base para a ação, a cada momento.

Revelações Místicas

Sob a ação do chá, a imaginação chega ao poder, de certo modo, com a área visual primária (BA17) tomando a dianteira da ativação das áreas frontais envolvidas na vida consciente. Nessa sequência, as imagens compostas pela imaginação sem peias aparecem para a mente como fatos. "A Ayahuasca confere status de realidade às experiências interiores", resumem os neurocientistas. "É compreensível, portanto, por que a ayahuasca foi culturalmente selecionada ao longo de muitos séculos por xamãs da floresta tropical para facilitar revelações místicas de natureza visual." As mirações são tão reais quanto a percepção de elementos externos. pelo menos no que diz respeito à modulação observada no sistema visual primário, explica Draulio de Araujo.

"Foi uma baita surpresa", afirma Sidarta Ribeiro. "Esperávamos que as áreas frontais assumissem a liderança". Tais conclusões, no entanto, "explicam" (aspas de Ribeiro), como ocorrem as mirações, sem excluir nem confirmar interpretações místicas.

Jornal Folha de São Paulo, de 21 de março de 2010, caderno mais.






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